sexta-feira, janeiro 29

Haiti? Qual dos Haitis? II parte

Não pretendia escrever sobre o Haiti novamente, mas após o primeiro texto, fiquei pensando na sua triste sina.
Desde sempre foram pobres, miseráveis, cercados de ratos e políticos ladrões.
Sua agonia é permanente.
Após este terremoto, não fosse a ajuda externa, já estariam como nas grandes epidemias européias do passado, quando os encarregados de recolher cadáveres, na falta de espaço, propunham trocar cadáveres de uma semana por alguns de morte mais recente. Ia me esquecendo que no Haiti não há nem quem os recolha.
Tornaram-se independentes em 1804. Um ex escravo, Dessalines, era seu nome, assume o título de imperador e é morto 2 anos depois.
As ingerências seguem.
Um doutor de vodu, mais ou menos um curandeiro chamado Duvalier, é eleito em 1957. Sua idéia era de estender o poder, as grandes massas negras, mas torna o país um estado policial. Em 1971 seu filho torna-se presidente perpétuo seguindo a linha Castro`s que começaram em 1959.
Em 1990 o Padre J. Bertrand Aristides, até por ser padre, é eleito e deposto 8 meses depois, por ser tão gato como os anteriores. Volta do exílio e é expulso novamente pela mesma razão.
Desastres naturais, também não os perdoam, furacões em 2005 e 2008, e após um período de calma o terremoto recente.
Ainda bem que os EUA tomaram a liderança. Não estou falando por ser americanista. Quem mais teria meios para fazê-lo?
Já imaginaram em uma situação tensa, muito tensa, dezenas de aviões chegando com militares e civis voluntários, todos querendo ajudar, mas sem transporte urbano, sem comunicações, sem mapas, sem uma língua comum, sem coordenadores locais e ruas sem identificação? Nem mesmo energia elétrica para as máquinas de cortar ferro e concreto.
Quem entende o creole? E o papianto? E as expressões comuns franco- africanas? Boa vontade deve estar sobrando, mas como fazer tudo funcionar? "Cada uno por su cuenta"?
Parece que duas semanas depois as coisas estão recomeçando.
Mas recomeçando de onde? Do nada? Até a pesca lhes é negada.
Toda a ilha tem peixes em volta, menos o Haiti. Há alguns anos, a equipe do Jacques Cousteau, a pedido da ONU fez um demorado estudo. Ficaram meses por ali e no relatório final disseram: nada errado com a natureza.
Foi " overfishing" ou seja, pescaram demais e com bombas... As bombas matam tudo, toda a alimentação de cardumes futuros. As anêmonas, os corais, tudo que tiver vida.
Quando eu era criança, ouvia que Sodoma e Gomorra haviam sido destruídas porque seus habitantes pecavam. Em Sodoma, eu até posso acreditar e já se sabe até o que faziam, mas Gomorra, nós nunca soubemos e os textos bíblicos nunca explicaram.
Quem sabe até estejamos perdendo algumas coisas boas.
Os irmãos do Colégio Católico, que sabiam tudo, davam a sentença: eram pecadores e ponto final.
O absurdo ouvido no colégio da minha infância me marcou até hoje. Quando há uma catástrofe, tipo as da China, Bangladesh e agora o Haiti, me pergunto. Seriam todos pecadores?
Todos eles? Até as crianças? Todos aqueles que vemos mortos nos descampados? Será que os haitianos estão purgando seus pecados de vidas anteriores, como crêem os hindus?
Será uma sina nascer no Haiti?



















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