quarta-feira, março 31

Páscoa nos Andes


Assisti a celebração na região dos Andes onde existe a exaltação a data.
Nunca entendi bem o por que, pois é uma celebração do invasor.
Isto acontece na parte da cordilheira peruana e quem sabe também na costa, onde nunca assisti.
Na verdade, todos explodem em festa durante a Semana Santa. As coloridas celebrações misturam ritos cristãos com elementos do paganismo, arraigados entre os descendentes dos Incas que ainda habitam cada vale da Cordilheira.
Para eles os Andes são a terra prometida. O culto à Pachamama, ( a mãe terra), resiste firme na Bolívia , no Peru e Equador.
São os chamados filhos do Sol.
Eles foram estimulados a compartilhar e a assimilar outras culturas.
O Império Inca havia se consolidado assim absorvendo e preservando costumes das etnias anteriores. Eles só se tornaram os mais falados por nós por estarem no poder quando chegaram os europeus.
Acho, portanto que é da natureza ameríndia associar novos costumes aos seus hábitos ancestrais e a Semana Santa é a expressão máxima da fé cristã. As comunidades andinas encenam, cada qual a seu modo, o sofrimento, a morte e o renascimento do Cristo que lhes foi imposto pelos invasores e que aprenderam a respeitar, mesmo sem entender.
Há celebrações em centenas de vilas e segundo me disseram uma das de maior representatividade é a que assisti em Arequipa com direito a procissão, auto flagelo etc...
Começa na Quarta Feira Santa e participam milhares de pessoas – boa parte viajantes que vem de longe, atraídos pela cerimônia.
Além deste por tradição a cidade promove, no Sábado de Aleluia, uma feira popular onde se vende artesanato, se bebe a chicha ( um tipo de cerveja de milho) se toma sopa e se masca folha de coca.
Com o acontecido recentemente no Chile, me lembro que a bela Arequipa, leva às ruas, entre outros andores, o do Señor de los Temblores. O culto remonta a 1650, quando um terremoto destruiu parte da cidade.
Na quinta feira não sei bem o que acontece, mas na madrugada da sexta lembro que os tambores rufam novamente. O som crescente dos instrumentos anuncia o começo da Paixão de Cristo. Tem início um dos momentos em que se pode visualizar a abissal discrepância social entre a esmagadora maioria indígena e a elite de raiz espanhola.
Mas tudo se fundiu com a fumaça dos incensórios usados para purificar as ruas de Arequipa, uma das mais belas cidades do país.

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