terça-feira, setembro 29

Bélgica


É curioso. Ninguém fala na Bélgica, poucos visitam a Bélgica.

Para os franceses, os belgas são colonos e frequentemente gozados como comedores de moule e frite, (mexilhões e batata frita), mas esquecem de dizer que esta combinação esdrúxula está tomando conta da França e só em Paris, há dezenas de casas.

Como tenho lá um bom amigo, o pintor de marinas René Du Jardin, passei a ver a Bélgica com outros olhos.

A cada esquina há uma loja oferecendo os melhores chocolates. Também não é novidade que a cerveja, por lá produzida, merece ser saboreada, até mesmo por um apreciador de vinho como eu. Aliás, atenção cervejeiros: eles tem algumas com até 14°.
Nenhum país produz mais cervejas do que eles e tudo pode ser degustado em uma centena de bares ou na Gran Plaza, no centro de Bruxelas, que é espetacular.

O país é um dos menores da Europa, mas com diferenças culturais, que vão muito além da língua e da geografia.
Bruges e Ghent, rivais pelo comércio têxtil no passado, ficam na região norte conhecida por Flandres, e são consideradas as cidades mais atrativas da Bélgica.

Bicicletas e canais são comuns em ambas. Na verdade, de acordo com o dialeto da região, a palavra Flandres significa “terras alagadas”.

Ao contrário do sul, onde se fala francês, em Flandres a língua oficial é o flemish, uma variação do holandês, só para iniciados.
Mas não se preocupe, você será entendido em qualquer idioma e eles são bons nisso. É comum alguém identificar o seu sotaque, reconhecer a sua origem e sair falando no seu idioma natal.
Bruges está sempre lotada de turistas. Restaurantes, lojas de chocolates, museus de tão cheios acabam diminuindo o charme medieval da cidade.

A menos de uma hora de distancia, encontra-se a outra jóia da arquitetura flamenga, onde é mais fácil andar.
Ghent é menos pitoresca que Bruges, mas tem uma atmosfera mais autentica.
Apesar da culinária de Flandres ter sido alvo de desdém por muito tempo, (principalmente dos franceses) está havendo uma redescoberta dos seus pratos tradicionais.

Coelho com ameixas pretas, por exemplo, bife marinado na cerveja e cebolas, além de diversos tipos de ensopados com frango ou frutos do mar, o delicioso waterzooi.
Os famosos crepes e waffles são normalmente acompanhados de sorvete, frutas e chocolate.

Ninguém em sã consciência pode deixar de prová-los. O mesmo conselho vale para os chocolates.
Só em Brujes, há em torno de 50 fabricantes e o produto é um dos melhores do mundo.

Mais um lembrete: o café é excelente. Tão bom quanto o italiano e com tantas variedades quanto.

sexta-feira, setembro 25

Graffiti: nascido nas ruas


Lendo os jornais da semana, atrasados, devido a minha ausência, me deparei com um conflito de opiniões.
Cheguei atrasado para participar, mas li hoje dia 25 a opinião do Régis Gonzaga e concordo com ele do princípio ao fim.

Antes que você comece a ler, quero que saiba que "graffiti" ou "graffities" não são minha arte preferida.
Mas devo reconhecer que com a atual orientação da Prefeitura, dispondo de muros, a nossa cidade está se tornando menos suja e com o tempo os grafiteiros vão melhorar.

Mesmo nascido nas ruas os graffitis já alcançaram o seu lugar.
Até novembro, por exemplo, a Fundação Cartier em Paris manterá a exposição "Nascido nas ruas: GRAFFITI".

Grafitar não é pendurar quadros em muros. Eles estão ali porque nasceram alí, nos muros das ruas.
Pelo que sei tudo começou em New York, quando os pioneiros começaram a transformar os carros do metrô em quadros andantes. Keith Harina e Basquiat começaram a revelar o seu talento nesta arte não convencional.

É claro que isto deixou vítimas. É perigoso pintar em metrôs velozes e em lugares movimentados e fugindo da polícia, é claro...
Leio no TIME que os melhores já desapareceram, eram de 1989/90, a idade de ouro do graffiti, mas expostos ao tempo não podiam durar e nem era essa a proposição.

O curador da exposição chama o ato grafitar de " uma dança com as paredes, com a noite e com a polícia".
Daí se espalharam pelo mundo.

Em São Paulo se criaram gigantescas pinturas sendo uma delas com 12 andares.
A primeira coisa é separar grafiteiro de pichador.

Os grafites são em muros previamente acertados e com projetos, a qualidade depende do talento do autor.
Os pichadores andam simplesmente lambuzando a cidade ou as escolas, como o caso do estudante de Viamão.

Li nos jornais do Rio que dois seguranças que cuidavam de um bairro, protegendo moradores e muros tinham mais sucesso que seus colegas com a mesma função. Só depois se descobriu que quando flagravam alguém pichando tinham uma fórmula que desencorajava os pichadores: com a gentileza de leões de chácara, mandavam baixar as calças e com os mesmos sprays, pintavam frente e fundos dos delinqüentes.

Não sei se a fórmula é aceita por gente que acha um jovem, de 80 kg, "um menor", mas certamente a fórmula é olhada com simpatia por quem como eu, que já teve os seus muros pintados.

Uma idéia mais inteligente, sem dúvida, quem teve foi o atual dono do Studio Clio.
Quando era só Studio, vivia sujo e lambuzado. Depois de inúmeras pinturas ( em média 3 a 5 mil reais cada) desisti e me limitava a me desculpar com os espectadores.

Pois o Chico Marshall, doutor, professor, mestre e arqueólogo (além de pianista) simplesmente tem sempre a mão uma lata de tinta da cor do prédio, e o 1º funcionário que chega pela manhã ao ver o prédio vandalizado, imediatamente repinta o lugar.
Dessa forma o "herói" da madrugada, que sujou tudo não chega a ver a sua "obra."

Foi um sucesso. Aos poucos os pichadores ficaram sabendo que sua marca ali não seria vista e foram desistindo.
A idéia foi e é brilhante, mas confesso que gostei mais da fórmula carioca.
Só me lembrar que, em vez de ir à praia, o sujeito tem que ficar em casa removendo com querosene, gasolina, thiner etc.. a tinta de lugares tão sensíveis, já reconforta.

Em tempo: parabéns professora Maria Denise!

terça-feira, setembro 22

Todo por la difunta



Tenho amigos que gostam de viagens.
Não nos vemos com a frequencia que gostaríamos, mas quando nos encontramos é um tal : por onde andaste, de onde vieste, para onde vais?

Na prática ninguém sabe bem, pois viajantes estão sempre ligados e a espera de condições favoráveis, nas coordenadas entra o preço do dólar, o frio ou o calor do hemisfério norte, o peso do porquinho de porcelana, que só depois de quebrado nos diz até onde podemos ir.

No meu caso quando até a última hora estou em dúvida....já sei!
Acabo indo para o sul da nossa América.

Esta vez, se não surgir nada mais estimulante tipo Namíbia-Tombuctu- Líbia (sim, agora se pode ir, antes só com passaporte árabe) estou pensando em ir até Vallecitos,( nem tão ao sul como estava falando). Está a 60 km da capital da província de San Juan, antes de Mendoza, aliás quem ainda não ouviu a expressão, entre San Juan y Mendoza? Pois é ali.

Por que ? Para que? Para nada, não tente entender viajantes.
Bem, ali tem uma crença que gosto muito e que acompanho desde minha 1ª viagem ao interior da Argentina, Bariloche( em um Fusca 1200, 4 marchas) que na última marcha, não andava contra o vento, pudera, tinha 26 HPS. Andava a 40km em 1ª, 60 em 2ª/ 90 em 3ª passava a 4ª e ... 89-88-87-86-85-84 3ª de novo, isto por 1400km.

Quero ir até o Santuário da Difunta Correa, venerada em todo país.
É pura curiosidade, a mesma que me faz visitar mesquitas, sinagogas, igrejas, o Padre Cícero no Ceará e mosteiros em todo lugar.

Não tenho vocação religiosa, filho de mãe carola e pai agnóstico, optei pelo 2º. Sorte minha, em vez de Adão e Eva, cedo optei por ser darwiniano.
Lembro até hoje do que um professor no primário disse, quando falei da teoria evolucionista.
Foi algo tipo: você não tem vergonha de ter tido um avô macaco? Não me lembro do professor, mas lembro da frase e da gargalhada que provocou.

Mesmo assim, digo que a fé sempre me interessou, sempre tive curiosidade por uma coisa abstrata que você tem ou não tem. Se você crê não há nada que o faça perder a fé. Se você não crê, podem dizer o que quiserem e nada irá fazer que você passe a tê-la.
Voltando...
É que viajando pela Argentina de Ushuaia a La Quiaca, me acostumei a ver os oratórios em sua homenagem, sempre rodeadas de garrafas de vinho.
Fotograficamente são ótimos, quase sempre com cores vibrantes, cruzes, oferendas e um céu absolutamente azul.

A difunta Correa é reconhecidamente uma beata, mas que era chegada num trago também é sabido, e por isso as garrafas que colocam nos capitéis, sempre tem um dedo de vinho. (como fazemos para o santo aqui)

Numa versão mais recente as garrafas passaram a ser de plástico e com água, pois, morreu "borracha", mas de sede , no deserto, portanto para atender a sua graça ela queria água, vinho ela já havia tomado toda a cota.

A verdadeira preferência não sei, nem saberei na volta, mas posso garantir que com água a história começa a perder a graça e não vou tão longe para fotografar garrafas de plástico...

Além desta crença a difunta tem na Argentina outro concorrente milagreiro: o Gauchito Gil, mas isso dá outra história.

sexta-feira, setembro 18

Chicago ...Chicago.....Chicago


Você lembra da música?
Se já esteve lá, vai lembrar também de suas características marcantes.
Primeiro do frio, especialmente quando chegam os ventos do norte. Norte dali é o Alaska, não esqueça. É como se os ventos viessem de um freezer aberto e passam ainda pelos grandes lagos o que mantém sua velocidade intacta.

É a época que a cidade se volta para os ambientes fechados, quando se pode apreciar melhor o sucesso e a verdadeira fama de berço do blues. Berço não é a palavra certa.
Os músicos vinham de Nova Orleans estimulados pela possibilidade de trabalho. Lá era só cantar gospel em igrejas, lindo, mas não pagava o super mercado.

Por outro lado, temos a Chicago do curto verão, quando o Lago Michigan que domina a paisagem se pinta de um verde azulado e o céu torna-se azul forte.
As praias diante da cidade se enchem, só de canadenses é claro, pois a água segue gelada. Tão gelada que inventaram o kids dryer, isto mesmo, o secador de crianças, onde cabem também adultos. Um cano de uns 20 metros de comprimento por uns 2 e ½ de altura e jatos constantes de ar quente.
Você entra molhado por um lado e sai seco do outro.

Na primavera,bem...aí é como se a população caminhasse numa floricultura, pois as ruas e praças ficam todas floridas.

Chicago parece a glória da civilização americana, elo de ligação entre as pradarias do oeste e os produtores de alimentos do leste.
Com o tempo e o trabalho, tudo cresceu e prosperou, apesar de temperaturas de 40 graus abaixo de zero todos os anos.

O incêndio que destruiu tudo em 1871 criou o espaço necessário pela prefeitura para administrar uma nova arquitetura.
Chicago se antenou na desgraça e convocou arquitetos de todos os lugares criando as bases da nova arquitetura americana.
Ali surgiram os arranha céus e podem-se ver prédios de gênios como Louis Sullivan e Frank Lloyd Wright.

Passear pela área central é observar e admirar alguns dos melhores momentos da arquitetura.
E melhor: é possível caminhar sem atropelos. A cidade tem trânsito simples, ônibus modernos, bom metrô, em parte elevado no centro, ou seja, as ruas fluem embaixo.
Tudo contrasta com prédios antigos, altos ou baixos, perfeitamente restaurados. A área se chama, Magnificent Mile e não é arrogância, é magnífica mesmo.
O Museu do Art Institute, na Michigan Avenue, é um show. Sua coleção de impressionistas é talvez a melhor dos Estados Unidos.
As opções culturais são muitas, os museus estão logo ali, mas guarde isso para a época fria. É certo que você vai voltar.

A Michigan Avenue, justamente a área destruída, onde se criou a Magnificent Mile que já falamos, reúne as mais sofisticadas lojas que você pode desejar.
Se o seu orçamento for do tipo do meu, não se aflija, o maior outlet dos Estados Unidos fica a uns 40 minutos ao norte da cidade.

Outro lado a favor de Chicago é a gastronomia. Come-se muito bem e mais barato do que Nova York. Um que me lembro é o Lucky, italiano claro, e o nome tem a ver com o Lucky Luciano, um dos gangsters do passado turbulento da cidade.
Sim, porque a cidade tem o seu lado dark, ali foi o QG do Al Capone, ali ocorreu a noite de São Bartolomeu. Aliás você pode ver tudo isso num tour em ônibus da época. A propósito você sabe o nome do Al Capone?
Provavelmente não, portanto satisfaça a sua curiosidade lendo as 6 linhas que faltam.

Se você é chegado a um breakfast a qualquer hora, experimente os da Corner Bakery, uma rede de padarias 24 horas. Os pães são do outro mundo e se você duvida pode crer. Já vi filas na rua, mesmo com temperaturas abaixo de zero só por um breakfast, mas é daqueles que se o seu cardiologista souber, o expulsaria do consultório na hora.

A noite, você tem a House of Blues e muitos outros clubes menores que oferecem boa música a preços acessíveis.
Não perca!

Ah, sim, o nome dele era Alfonso, Alfonso Capone.

terça-feira, setembro 15

Paris


Estou voltando de Paris, não da cidade e sim do filme. Vê-lo correspondeu a um retorno, o que sempre agrada.

Primeiro, ver a Juliette Binoche, encantadora, sem botox, plástica etc.. e mais a Paris que vejo quando estou por lá, a Paris de quem tem amigos e com eles, não se vai as grandes atrações.

Frequenta-se as pequenas ruas, os restôs, as queijarias, as boulangeries, as feiras e os outros lugares onde os moradores se abastecem e, disto eles não abrem mão, bem como do seu hábito de " rouspete", que é mais ou menos contestar, divergir, e tomar partido, sempre com opinião própria e um humor levemente ácido.

Ao invés da Paris que eu esperava, belas áreas da cidade e de alguma vista panorâmica, não vi nada mais que ruas secundárias (com exceção de uma breve olhada no Sacre Coeur, a horrorosa torre de Montparnasse, alguns segundos na nova Ópera, Bastilha, o Moulin Rouge e só.

Mas mostra o que nós viajantes gostamos de Paris: os bairros com gente comum na rua, um hábito que perdemos, perdemos não, as sucessivas más administrações nos tiraram, o mau emprego do nosso dinheiro só enriqueceu os serralheiros.
Nada contra eles, pelo contrario, tenho um ótimo, se você precisar, chama-se Ricardo.( 3248 1011)

Aliás, você conhece alguma casa sem grades? Algum edifício sem cerca? Algum que não tenha porta de ferro, guarita, alarmes, câmaras?

Pois a Paris que fui rever no Guion, é a da vida real, de gente que vive numa cidade com 4 milhões de pessoas com janelas abertas no andar térreo e que nos devolve a alguns dos grandes prazeres... como caminhar na rua sem medo.

São as ironias do cotidiano.

O nosso Iluminado quer uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
Quer porque quer, mas não lembra que não temos segurança aqui, nas ruas de qualquer cidade e que os submarinos, atômicos ou não, novos caças e helicópteros, que ainda não sei contra quem iremos usar não nos protegem no dia a dia, só são contra as nossas finanças, pois, vamos gastar uns 25 bilhões.

O café, nosso carro chefe nos bons anos rende 4 a 5 bilhões, ou seja todo café exportado durante os próximos 6 anos são para o Monsieur Sarkô?

Voltando a Paris, que a cidade é vibrante todos sabem, que alguns de seus bares tem 200 anos também, mas o que o diretor mostra não são eles, mas os botecos, o cotidiano de seus moradores, e não a Paris dos turistas.

Mostra bares como a Caverna do Ratão, pizzarias comuns como a Bella Morano e padaria, como a nossa de esquina, aliás, com uma padeira rançosa que só se queixa das funcionárias e se desmancha em sorrisos quando chega algum cliente.
Esses saem invariavelmente com uma baguette embaixo do braço lembrando hoje o conselho que me deram quando pela primeira vez fui até lá: na França coma só extremidades do pão.

Vale até hoje!

sexta-feira, setembro 11

Relembrando setembro 11



As imagens, é claro, não irão embora da nossa mente.
Os aviões explodindo em chamas, corpos caindo das torres.
Volta e meia a reapresentação daquelas imagens dão a todos um novo choque de realidade, mas a vida continua, e as filas já voltaram aos aeroportos.
O mundo foi voltando ao normal.

Já nos acostumamos com os guardas armados, a tirar os sapatos e a mostrar o que se tem nos bolsos. (claro que há pessoas que dizem que é uma humilhação imposta pela América).

Não considero exagero o cuidado, depois de ter visto o buraco que ficou no lugar das torres, o Ground Zero, assim como ainda não me habituei a ver Nova York de longe sem as duas belas torres e quem, como minha amiga Silvia, que atravessou a pé a ponte do Brooklin, em direção a ilha, certamente vai me dar razão.
As torres fazem falta e a sua falta nos remete ao 11 de setembro.

Sei que a maioria das pessoas tem críticas as medidas, e tem até as que se revelam contra os vistos e contra a revista nos aeroportos
Essas opiniões parecem vir de pessoas que conhecem bem pouco o outro lado do mundo: o dos radicais islâmicos. Não estou falando do Islã, do Islamismo, mas dos seus radicais.
Na verdade nós aprendemos pouco sobre o mundo e acho que nunca chegaremos a um acordo sobre isto.

Na mesma hora que desce alguém como eu ou você, para duas semanas na dourada New England, com suas folhas caindo e que justamente chamam *falling season*, chega também uma família árabe indo para Disney World com os filhos. Como saber? Como agir?
Algumas injustiças são cometidas, é claro.

É complicado para todos nós. Para os.....vamos chamar, erradamente, de asiáticos, os muçulmanos, os do oriente médio, sei lá...
Todos tentamos ser iguais, mas não somos.

Como saber quem é o possível terrorista? Lembre-se que alguns causadores do 11 de setembro viviam legalmente nos EUA a 5/6 anos.

É antipático chegar a um país, cheios de amor para dar, com sorrisos e dólares para gastar e (as vezes) ter que ficar respondendo perguntas aparentemente ingênuas, mas o que fazer?
Como resolver instantaneamente quem passa e quem fica?

Em compensação passaram-se 8 anos do malfadado dia e não houve um só atentado em território americano( coisa que não conseguiram na segunda guerra mundial), isso que os EUA tem mais ou menos 7.000 km de costa aquática e outros 7.000km de fronteira seca com Canadá e México.




terça-feira, setembro 8

Twin Towers


Passávamos por uma estrada secundária cheia de sequóias. Vínhamos do Canadá, e íamos em direção aos vinhedos da Califórnia, quando um lugar singelo, absolutamente verde e cuidado, como tudo no estado do Oregon, chamou nossa atenção.

Situado num largo, a beira da estrada, um bar com loja de souvenirs, o simpático dono, ex combatente no Vietnã e quem sabe amigos e vizinhos, haviam feito uma homenagem as duas torres gêmeas, simbolizadas por duas árvores gigantes.
Diz a inscrição, que é uma espécie de altar, aos pés das sequóias:

*Estamos hoje aqui reunidos, no primeiro aniversário do infame ataque ocorrido em Nova York.
Dedicamos essas duas sequóias gêmeas, com mais de 100 metros de altura, a memória de todas as vítimas daquele trágico dia, vivas ou mortas.
Oferecer um memorial vivo a todos cujas vidas foram despedaçadas, como as torres é a nossa intenção.
Essas duas árvores se manterão de pé como um monumento a todos os heróis que sacrificaram suas vidas cumprindo com o seu dever.
Existem também os heróis invisíveis que também devem ser homenageados: os bombeiros voluntários.
Pessoas sempre dispostas a oferecer seu tempo, sua energia e as vezes até mesmo suas ocupadas vidas, para ajudar os outros.
Muitas pessoas não se dão conta de que elas estão esperando até que seus serviços sejam pedidos urgentemente, desesperadamente.
Essas duas árvores irão se manter de pé como um memorial vivo e como um monumento para a geração que chega.
A nosso ver, a natureza fazendo-as gêmeas, fez delas um memorial apropriado a todos cujas vidas foram para sempre alteradas naquele dia.
A genética resistente da sequóia faz delas uma verdadeira maravilha da natureza.
Quando cortadas elas crescem novamente com suas raízes muitas vezes formando novos grupos de plantas. Sua facilidade de se sobrepor as adversidades faz delas um monumento de luta e força
Sua vontade de ressurgir é uma característica que nós americanos, dividimos com elas.
Elas lutam pelo direito da vida e se sobrepõem as adversidades (incêndios, vendavais, enchentes etc...)com uma persistência singular.
Nós estamos todos envolvidos nessa tragédia, alguns diretamente outros nem tanto.
Na realidade, os heróis somos nós, o povo dos Estados Unidos da América que tem mostrado ao mundo que as palavras" casa dos bravos e terra da liberdade" são de fato verdades.
Nós o povo, mais uma vez tivemos as nossas crenças duramente atingidas pela trama da morte e da destruição. Pretendemos que nesta ocasional visita, se juntem a nós, auxiliando-nos a que o mundo saiba que nós não iremos esquecer o que aconteceu naquele terrível dia de setembro de 2001.*
GOD BLESS AMERICA!

quarta-feira, setembro 2

Turistas ou Viajantes


Me incomodam os bandos de turistas que vestem bico de pato, e fazem um * ar blasé* quando com uma mão puxam uma maquininha e fazem um click.

Tenho a sensação de que o excesso de turismo destrói uma cidade.
Bem, destrói não seria o termo, mas as torna banais.

A questão é: o que diferenciam turistas como eu, de outros turistas que também querem ver uma cidade?
As diferenças físicas são óbvias.
Viajantes são discretos, são menos evidentes do que turistas vestidos de turistas.

Também me incomoda conviver com legiões de excursionistas, sobretudo em função do comportamento destas multidões.

Isso eu via muito bem quando minha
mulher se preparava para o mestrado em Florença.
Saíamos a pé, lá pelas 7 horas e íamos até a Universidade.
Para isso, passávamos pela Piazza della Signoria, pela réplica do David,(é perfeita, mas é uma réplica),pelas portas do Bernini etc...

É um trajeto espetacular, mesmo para quem a minutos atrás havia cruzado Il Ponte Vecchio. Ela ficava, e eu voltava, mais ou menos pelo mesmo caminho, até porque não conheço outro melhor.

Quando meia hora depois, passava de volta pela Piazza e pelo peladão David, era assustador... hordas de turistas europeus, latino americanos, anglo saxões, alemães e japoneses principalmente.
Saíam de todas as ruas, de todas as vielas, guias, bandeiras, megafones, e crianças.

Hoje, mais tranqüilo, procuro enxergar em cada comprador de bibelô um futuro apreciador da humanidade.
Há quem diga que quase todo apreciador de bons filmes iniciou-se vendo um gato e um rato se matando a pau numa matinê de domingo.
Não sei se o Goida concorda, mas é o que me ocorre.

Sou forçado a concordar que, em alguns casos, o turismo realmente destrói lugares.
O mundo está cheio de pequenas vilas pitorescas que sucumbiram ao assédio dos visitantes e mudaram de tal forma que seus próprios moradores já não são capazes de se orientar nelas e se fascinam pelas lanchonetes e acrílicos.

Comunidades mais sábias souberam fazer do limão a limonada, e da presença dos visitantes e seus dólares, o capital que lhes faltava para preservar e valorizar seu patrimônio.

Por isso, procuro épocas intermediárias e alternativas para ver as atrações e me arrisco a explorar o que é menos evidente sempre que possível.
Mas não me engano: mesmo sem bico de pato ou máquina fotográfica, sou um turista como eles, sempre ciente que tenho muito a aprender.



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