terça-feira, setembro 22

Todo por la difunta



Tenho amigos que gostam de viagens.
Não nos vemos com a frequencia que gostaríamos, mas quando nos encontramos é um tal : por onde andaste, de onde vieste, para onde vais?

Na prática ninguém sabe bem, pois viajantes estão sempre ligados e a espera de condições favoráveis, nas coordenadas entra o preço do dólar, o frio ou o calor do hemisfério norte, o peso do porquinho de porcelana, que só depois de quebrado nos diz até onde podemos ir.

No meu caso quando até a última hora estou em dúvida....já sei!
Acabo indo para o sul da nossa América.

Esta vez, se não surgir nada mais estimulante tipo Namíbia-Tombuctu- Líbia (sim, agora se pode ir, antes só com passaporte árabe) estou pensando em ir até Vallecitos,( nem tão ao sul como estava falando). Está a 60 km da capital da província de San Juan, antes de Mendoza, aliás quem ainda não ouviu a expressão, entre San Juan y Mendoza? Pois é ali.

Por que ? Para que? Para nada, não tente entender viajantes.
Bem, ali tem uma crença que gosto muito e que acompanho desde minha 1ª viagem ao interior da Argentina, Bariloche( em um Fusca 1200, 4 marchas) que na última marcha, não andava contra o vento, pudera, tinha 26 HPS. Andava a 40km em 1ª, 60 em 2ª/ 90 em 3ª passava a 4ª e ... 89-88-87-86-85-84 3ª de novo, isto por 1400km.

Quero ir até o Santuário da Difunta Correa, venerada em todo país.
É pura curiosidade, a mesma que me faz visitar mesquitas, sinagogas, igrejas, o Padre Cícero no Ceará e mosteiros em todo lugar.

Não tenho vocação religiosa, filho de mãe carola e pai agnóstico, optei pelo 2º. Sorte minha, em vez de Adão e Eva, cedo optei por ser darwiniano.
Lembro até hoje do que um professor no primário disse, quando falei da teoria evolucionista.
Foi algo tipo: você não tem vergonha de ter tido um avô macaco? Não me lembro do professor, mas lembro da frase e da gargalhada que provocou.

Mesmo assim, digo que a fé sempre me interessou, sempre tive curiosidade por uma coisa abstrata que você tem ou não tem. Se você crê não há nada que o faça perder a fé. Se você não crê, podem dizer o que quiserem e nada irá fazer que você passe a tê-la.
Voltando...
É que viajando pela Argentina de Ushuaia a La Quiaca, me acostumei a ver os oratórios em sua homenagem, sempre rodeadas de garrafas de vinho.
Fotograficamente são ótimos, quase sempre com cores vibrantes, cruzes, oferendas e um céu absolutamente azul.

A difunta Correa é reconhecidamente uma beata, mas que era chegada num trago também é sabido, e por isso as garrafas que colocam nos capitéis, sempre tem um dedo de vinho. (como fazemos para o santo aqui)

Numa versão mais recente as garrafas passaram a ser de plástico e com água, pois, morreu "borracha", mas de sede , no deserto, portanto para atender a sua graça ela queria água, vinho ela já havia tomado toda a cota.

A verdadeira preferência não sei, nem saberei na volta, mas posso garantir que com água a história começa a perder a graça e não vou tão longe para fotografar garrafas de plástico...

Além desta crença a difunta tem na Argentina outro concorrente milagreiro: o Gauchito Gil, mas isso dá outra história.

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