quarta-feira, setembro 2

Turistas ou Viajantes


Me incomodam os bandos de turistas que vestem bico de pato, e fazem um * ar blasé* quando com uma mão puxam uma maquininha e fazem um click.

Tenho a sensação de que o excesso de turismo destrói uma cidade.
Bem, destrói não seria o termo, mas as torna banais.

A questão é: o que diferenciam turistas como eu, de outros turistas que também querem ver uma cidade?
As diferenças físicas são óbvias.
Viajantes são discretos, são menos evidentes do que turistas vestidos de turistas.

Também me incomoda conviver com legiões de excursionistas, sobretudo em função do comportamento destas multidões.

Isso eu via muito bem quando minha
mulher se preparava para o mestrado em Florença.
Saíamos a pé, lá pelas 7 horas e íamos até a Universidade.
Para isso, passávamos pela Piazza della Signoria, pela réplica do David,(é perfeita, mas é uma réplica),pelas portas do Bernini etc...

É um trajeto espetacular, mesmo para quem a minutos atrás havia cruzado Il Ponte Vecchio. Ela ficava, e eu voltava, mais ou menos pelo mesmo caminho, até porque não conheço outro melhor.

Quando meia hora depois, passava de volta pela Piazza e pelo peladão David, era assustador... hordas de turistas europeus, latino americanos, anglo saxões, alemães e japoneses principalmente.
Saíam de todas as ruas, de todas as vielas, guias, bandeiras, megafones, e crianças.

Hoje, mais tranqüilo, procuro enxergar em cada comprador de bibelô um futuro apreciador da humanidade.
Há quem diga que quase todo apreciador de bons filmes iniciou-se vendo um gato e um rato se matando a pau numa matinê de domingo.
Não sei se o Goida concorda, mas é o que me ocorre.

Sou forçado a concordar que, em alguns casos, o turismo realmente destrói lugares.
O mundo está cheio de pequenas vilas pitorescas que sucumbiram ao assédio dos visitantes e mudaram de tal forma que seus próprios moradores já não são capazes de se orientar nelas e se fascinam pelas lanchonetes e acrílicos.

Comunidades mais sábias souberam fazer do limão a limonada, e da presença dos visitantes e seus dólares, o capital que lhes faltava para preservar e valorizar seu patrimônio.

Por isso, procuro épocas intermediárias e alternativas para ver as atrações e me arrisco a explorar o que é menos evidente sempre que possível.
Mas não me engano: mesmo sem bico de pato ou máquina fotográfica, sou um turista como eles, sempre ciente que tenho muito a aprender.



Fale conosco: delmese@terra.com.br

Um comentário:

Fernando esbroglio disse...

Oi Flavio, Fico feliz de ver que sucumbiste à web. Bendita tua secretária... Concordo com tua apreciação sobre o "excesso" de turistas e em especial ao desgaste que este tráfego impõe ao próprio patrimônio artístico ou histórico. Mas, sem eles, como seria? Em muito lugares já há limitação de volume, e, isto deve ser a solução global...enquanto não se contiver a humanidade de tanto crescimento demográfico. Abraço e sucesso no teu Blog !!!